Historicamente, nos Estados Unidos, conselheiros em Saúde Mental e Tratamento por Uso de Substâncias têm ajudado pacientes da mesma forma que tratamos outras doenças. Descobrimos qual é o problema, tentamos encontrar uma solução e, se não conseguirmos, tentamos minimizar os aspectos negativos da doença que estávamos tentando tratar. Isso se baseava em um modelo médico de cuidado.
Se você for diagnosticado com um caso grave de gripe, o médico recomendará medicamentos que o ajudem a lidar com a febre e problemas digestivos. É muito mecânico. Algo está quebrado, então fazemos o possível para consertar. Mas um indivíduo que tem problema de saúde mental ou é usuário de substâncias psicotrópicas ilícitas não é uma máquina que pode ser remendada ou ter peças substituídas. Muitas dessas condições são crônicas. E então, uma abordagem diferente é necessária.
Hoje, no estado de Nova York, o padrão esperado é o atendimento baseado na pessoa. Este modelo foi inspirado na terapia humanística de Carl Rogers nos anos 1960. Esse modelo de tratamento passou a ser a abordagem esperada nos anos 2000. Tornou-se um aspecto crucial do cuidado com a adoção da Redução de Danos em relação à Abstinência na década de 2010. O foco do programa é deixar de ver os pacientes como um problema que precisa de nós para resolvê-los, mas sim como indivíduos que precisam ser participantes ativos em sua recuperação.
O Modelo Médico de tratamento geralmente se assemelha a um conselheiro que passa por várias avaliações e, em seguida, escreve um plano de tratamento para o paciente. Não havendo adesão do paciente ou ante a eventual dificuldade em seguí-lo, era-lhe adicionado rótulo de “Não Conformidade” ou como “Mau Paciente”. Nessa sistemática, os pacientes eram culpados pelos desafios naturais que experimentavam durante o processo de recuperação. Os médicos partiam de uma máxima preconceituosa de que os pacientes de dependência química ingressam no sistema de saúde já com uma grande capacidade de enganá-los. Quanto aos portadores de patologias mentais, a máxima de que não mereciam credibilidade porque estavam delirando ou em exceção de sanidade pós-delírio.
Esses rótulos, impostos tácita ou expressamente pelo próprio sistema, seguiriam com o paciente ao longo de sua vida, em todos os seus prontuários médicos. Seria um ciclo de estigma que poderia piorar cada vez mais, à medida que o paciente encontrasse com novos profissionais de tratamento.
Agora reconhecemos que a opinião do paciente é determinante para o sucesso do seu tratamento e que essa interação encaminhará para uma melhor jornada de recuperação e, consequente, queda nos eventos de recaída. Nesse sentido, pode-se dizer se trata de um verdeiro protocolo de atendimento médico, o qual seguirá princípios basilares, os quais deverão nortear os profissionais da saúde.
Aqui estão os cincos princípios de Tratamento e cuidados focados e centrados na pessoa, conforme estabelecido pelo Escritório de Serviços e Apoio à Dependência Química (OASAS) no Estado de Nova York:
• Planos de tratamento centrados na pessoa são desenvolvidos usando a própria linguagem de um indivíduo para identificar os objetivos do tratamento. Os planos devem refletir os valores, cultura e crenças do indivíduo.
• O panejamento de tratamento centrado na pessoa inclui trabalhar com indivíduos que podem ter objetivos de tratamento diferentes da abstinência. Isso inclui reduzir o uso e minimizar o risco associado aos padrões de uso de substâncias.
• O estabelecimento de metas individuais deve refletir a tomada de decisão compartilhada e a escolha informada. Todos os indivíduos que procuram serviços devem ser informados sobre a ampla gama de opções de tratamento disponíveis. O indivíduo deve fazer uma escolha informada sobre a medicação e as abordagens comportamentais do tratamento.
• A equipe multidisciplinar de tratamento mantém um papel profissional, informando o panejamento do tratamento e assumindo a responsabilidade final pelo plano.
• O tratamento centrado na pessoa é baseado em evidências, na força e não punitivo. O objetivo desses princípios é proporcionar aos clientes uma vida melhor.
Dois dos principais motivos pelos quais as pessoas fazem mau uso são o fato de estarem vivendo em situações muito desafiadoras, que lhes dão poucos motivos para lutar para se sustentar, e o outro é que não possuem estratégias de enfrentamento saudáveis para lidar com o estresses cotidianos, ou os sintomas de saúde mental.
Dizer a alguém para simplesmente deixar de usar as substâncias entorpecentes que já vem usando priva-os de um meio de apoio, torna a missão praticamente impossível e não ajuda não ajuda o dependente químico a sobreviver.
Provavelmente, ouviram pessoas dizendo-lhes como viver suas vidas desde que eram crianças. As taxas de sucesso de recuperação são muito mais altas quando capacitamos as pessoas com quem trabalhamos para trabalhar em prol de uma vida que amem e construam para si mesmas. Isso também é verdadeiro para aqueles com diagnósticos de saúde mental. Podemos parar de ver todos esses indivíduos como um problema e torná-los parte da solução.
Leia mais sobre os tratamentos e cuidados centrados na pessoa e não na doença em: https://oasas.ny.gov/system/files/documents/2020/01/oasasperson-centeredcareguidance.pdf
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